segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O Mal Agouro


Sempre me fora dito que os corvos são criaturas malignas que só trazem desgraça e morte por onde passam.


Nunca acreditei em tais lendas, afinal, são apenas lendas. Porém sempre notei um curioso fato, sempre que alguém morria em algum lugar havia um corvo perto de seu corpo ou até mesmo pessoas que vieram a morrer tempos depois eram vigiadas de longe por um corvo.


Com o passar do tempo nosso pequeno e pacato reino se envolveu em uma terrível e sangrenta guerra com um reino vizinho. A partir de então eu via muitos corvos e com uma frequência assustadora. Não tardou muito para que eu fosse recrutado a lutar nos campos de batalha. A guerra já durava anos e não acontecia nada além de sangue, morte de ambos os lados... e é claro, os corvos.

A situação começou a me desesperar quando passei a ter como primeira visão todos os dias ao acordar um corvo negro de olhos vermelhos comendo carne de um cadáver ou até mesmo com o bico e as penas manchados em sangue. Essa guerra tinha que acabar logo ou não haveria sobreviventes, pois nos anos que se passaram já haviam morrido tantas pessoas que dezenas, não, centenas de vilas e vilarejos de ambos os reinos encontravam-se desertos.

Guerreamos com bravura por tanto tempo que atacar com a espada e defender com nossos escudos eram o praticamente gestos automáticos, fazíamos isso sem nem perceber. Porém, um a um meus companheiros foram abatidos ou pelos inimigos, ou por doenças ou pela exaustão. Foi horrível!

Não tardou muito até que nossos exércitos se resumiram a um único homem de cada lado. Eu e o rei inimigo, Meu rei infelizmente havia morrido com uma flecha certeira no coração. Hoje, num dia nublado, num campo aberto, estávamos apenas eu, meu inimigo e é claro, os corvos. Poucos metros a minha frente havia uma espada cravada no com a lâmina no chão e apoiando-se sobre o punho havia um corvo visivelmente sábio, com suas penas negras como a mais profunda noite e seus olhos mais vermelhos que sangue ou brasas.

Ao primeiro pio do corvo disparei na direção de meu inimigo tão rápido que antes mesmo que ele percebesse eu já o tinha transpassado com a espada, cortando seu coração ao meio. Deixei o corpo cair para trás no chão sem que eu retirasse minha espada. Sentindo-me vitorioso virei-me a volta dando um urro de vitória com meu braço direito estendido aos céus tempestuosos. Percebi que o corvo ainda estava repousado tranquilamente na espada e me observava com interesse, após seu pio eu senti a exaustão e a dor de todos os ferimentos que tantos anos de batalha me atacando todos ao mesmo tempo.

Desabei no chão caindo de costas e vi o corvo alçar voo em minha direção e pousar em minha barriga, senti a agonia de suas garras caminhando até que ele estivesse parado em meu peito me olhando no fundo do olhos como se pudesse ver minha alma com aqueles olhos vermelhos e brilhantes. Minha visão escureceu e antes de eu perder a consciência ouvi o corvo falando em minha mente.

 "Hoje a vitória não pertence a você!"

Essa é a última coisa de que me lembro...


Autor: Hugo Antônio

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